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As cores e as estampas das palavras

Por Bethânia Lima

Kalina Veloso

Ele me levou para ver o mar. Já tinha algum tempo. Eu sabia que encontrar com eles seria diferente. Ele e o mar. O coração sempre acelera. Deixa de ser aquarela e passa a ser maremoto. Questão de identidade. Paixão mesmo. Ariscos e sutis. São olhares que traçam sentimentos em mim.

Chego em casa e pego minha revista. TV ligada e notícias de morte. Pego o controle remoto e manuseio, tal pincéis em tela. Todo cuidado é pouco. Esqueço o risco da morte e olho paredes. Os tapetes. Os quadros. Leio poesia.

Distraio-me e me encanto. Uma revista de nome Preá. Sempre está por perto. Folheio o bom conflito do sertão com o mar. Um bombardeio da poética do RN. Paulo Balá e Dorian Gray Caldas com a condução do jornalista Mário Ivo. Lindos olhares. Eles encaram a revista e me engolem com a força de bons observadores.

Foi a praia. Foi o domingo. Eu nem sei mais. Ele tem o nome mais literário de todos. Parece equilibrar com cuidado o espelho. Mantém o mar tão próximo e tão distante. Brinca de reflexo com o mar. Ou seria o riso incontido do rio?! Corre com maestria. Equilibra e inspira a arte. Transpira a emoção.

Joga palavras ao vento. Não carrega a briga do tempo. Tal qual o seu nome. Ele é o tempestuoso mais ameno. Mãos enormes. Carrega o tempo com maestria. Distrai-se com a vida. Eu fecho a revista. Procuro respirar. Encontrar as cores e as estampas.

Meu coração nem molhou os pés. Mas recebeu a maresia. Sentiu alívio com a revista fechada. Abriu as cortinas do mundo. Sorriu o amor em um passeio de palavras. Cortou pensamentos, tal como ferro de marcação. Cantou serenatas e viu a cidade acender as luzes.

Você alimentou as artes das musas. Pulou ondas em rios. Parece ser impossível. Nada o é. Resgatou tios poéticos em árvores de infância. Ah! Segure a minha mão. Vamos juntos. Eu quero o fogo do mar. A sombra da cerâmica mais vil.

Sonho com desenhos em mim. Estrelas, lua, conchas, peixes, cavalos e galhos marinhos. Bocejo o amor que não assanha o cabelo. Orgia em cores para você. Encarar a vizinhança em tela. Coisas da vida. Pincéis, agulhas e canetas que falam.

Tudo é gozo. O barulho do mar. O quebrar das ondas. O domingo é um mirante que levanta voo. Mergulho em paixões. O suco da fruta azeda. A chuva que vem molhar o sertão. Você costurou a loucura em mim. Risos. Prantos. Famílias que pregam sílabas em algodão. Folhas secas do sertão em mares de mim. Não sei... Pulei páginas.

Cadê a morte?! Cadê a vida?! Voou por aí afora. São tapetes marfim. São telas que esfriam o sofrer. Só remenda a gentileza do teu olhar. A carícia do teu mar. Olhos vivos a queimar a tela. Recomeço a leitura. Repito e repito... Anjo a sentar na cadeira. E adormecer as asas. Passo outra página e o mar continua a barulhar... Dorian a sorrir da brincadeira. Cores que quebram a paz e a letargia. Um sertão em equilíbrio. O mar maior... Ondas que não voltam...

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